quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
O que há com ela?
Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo
Tradução do russo por Mykola Szoma
(Что с ней?, 1871)
O que há com ela?
1.
Quando, de trás da cortina, ela emergia,
Em estado de oração e meditação parecia;
Uma vida perdida, repleta de males e de sujeiras da vaida,
Revelava-lhe as dores,
com as quais a sua alma impregnada estava...
Em seus melhores dias, quando a beleza florescia,
Seus pensamentos perdiam viço e murchavam;
Seus lábios não murmuravam frases benfazejas e carinhosas;
Nem proferiam orações de "acalanto" infantis.
Com fogo ardente, os desejos -- de sob as pestanas negras,
Fulgindo atormentavam, dos outros, os pensamentos.
Naqueles dias... -- milhares de páginas secretas... Foram
lidas e reviradas. E muitas noites não dormidas.
Os seus anseios de uma verdade pura, levaram-na à lágrimas;
No Ocidente as tempestades dançavam ventanias,
Chegavam, até nós, indagações as mais diversas e fortuitas,
Como se o vento irrompesse pelas gretas de janelas.
Salvar-nos, desta ventania de intromissão livre, não há como
Esta moral fingida, que nos embala, não subsiste
-- Onde os homens não respeitam mais ordem pública nenhuma...
Tudo, ao derredor nosso, já foi espezinhado...
2.
E o espírito de auto-negação apoderou-se dela, --
Compreendeu o poder que nela residia;
Aprisionou a jovem alma dela,
Até que ela, de tédio, se esvaira;
Todo o ensino, a família, o estado e o direito,
A religião, o gênio, e as obras de arte,
E tudo -- o que havia, tornou-se apenas um vazio;
Na sua mente, -- Em seus sentimentos
-- do que havia, nada restou!
"Siga, -- dizia-lhe ele, -- Siga-me a mim,
Terás um caminho todo livre...
Em breve, entre os atelies e oficinas, nós dois
Uniremos os destinos num banquete popular.
Em cada espaço -- haverá um palácio coletivo;
Pelo trabalho -- terás paga em forma de amor;
E haverá fim a todos os auto-aniquilamentos,
Terá florescido o fruto do sangue vertido".
Estas palavras -- de tudo, sombrias
Sem parar, ela repetia;
A sua voz fraca -- como uma corda, acordes fremia,
E na voz, uma fé orgulhosa "bramia".
3.
E passava o tempo... E muitas esperanças passavam,
De modo grosseiro revestidas, não convenciam;
E queimadas, mau cheiro exalaram. Apagaram os encantos.
-- Do ignorante, os pensamentos
diluiram-se junto aos ventos.
As suas faces murcharam -- Em seus olhos escuros
Alguns pensamentos ainda cintilam,
E se não fosse o sorriso dos seus pálidos lábios --
O sorriso de outrora, já por perdido se dava.
O "círculo", que dava ouvidos às suas ditosas promessas,
Já há muito esqueceu os seus sonhos;
Cada qual encontrou o seu próprio caminho -- O cantinho
no qual resolveu cultivar os seus escritos.
E aquele, que recolheu os tributos do coração dela,
E aquele, que já foi andar por outros caminhos,
Lançando, em mãos dela, preocupadas perturbações --
Conheceu, em seu peito, muitas inquietações...
Para que não restasse lembrança das amizades,
Bateu à porta dela uma necessidade.
E ela se batia -- e ela corria em busca de trabalho --
Agora onde está? O que aconteceu com ela?
4.
Ela partiu para o Ocidente, para as terras estranhas,
Onde a seara há muito já amadureceu,
E tudo, o que não foi tirado dela com inimizade,
Para novas inimizades, incolume ficou?
Ou partiu ela para as estepes nossas, para lá onde
Não se encontram nem o começo e nem o fim,
Lá onde o tempo necessita de infindos trabalhos
E muita fé de um temperamento ardil?
Talvez, extenuada já pelas terríveis lutas,
Inebriada pelo cansaço, nem mais respira
E, em silêncio ouve, da vida os delírios, embriagada,
Meu deus! -- Será que ela ainda ouve!?
Se o seu espírito de auto-negação, -- zombando dela,
Também dela distanciando-se, a negou --
Aquela que lhe dera, em sacrifício, dias de alegria;
Graças a ele, está agora perecendo!
Embrutecida -- não poderá mais entender,
Que no abismo das transgressões humanas
Do coração as chamas, apenas ao poeta cabe acender;
Do pensamento as idéias alumiar,
apenas cabe ao gênio.
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