terça-feira, 20 de novembro de 2012

Branca noite // Beda, o pregador


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Белая ночь, 1862)

Branca noite

Para longe foi dispersa a fumaça, soprou um frescor matinal.
Sem sombras da noite, sem lampiões de esquina, sobre o pálido Neva
A noite branca avança -- apenas se avista a cúpula dourada
Por trás dos palácios cinzentos, sobre a colunata circular,
Como se uma coroa mortuária pairasse frente à lâmpada votiva,
Que tremeluzindo, se destaca nas frias e silentes alturas.
Responda-me, ir para onde em busca da felicidade, do deleite,
Responda-me, por que estás bravo assim, meu amigo camarada?!
Eis aí -- um obscuro monumento erigido sobre o granito...
Ou talvez um pensamento -- sendo oprimido, teu
Na busca de uma salvação numa comiseração envenenada,
Tal como esta serpente de bronze
Sob o cavaleiro de bronze, espremida pelo casco
Do seu cavalo galopeador...

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Бэда-проповедник, 1841)

Beda, o pregador

Era tarde; Vestindo um traje amaçado pelos ventos,
Caminhava, pelos atalhos campeiros, o cego Beda;
Um seu braço apoava-se sobre o ombro de um menino,
Pisava cuidadosamente por sobre os pedregulhos do caminho,
Ao redor, parecia ser tudo estranho e tudo silente,
Erguiam-se apenas os seculares pinheiros,
Sobressaiam-se apenas tons cinzas de rochedos,
Vestidos de úmidos e peludos musgos.

O menino sentiu cansaço; desejou bagas frescas,
Ou talvez, simplesmente quis o cego enganar:
"Starik! -- disse ele, -- Eu vou um pouco descançar;
E tu, se o quiseres, inicies tua palavra a pregar;
Lá dos altos, já te viram os pastores...
Alguns dos anciães à beira da estrada se postaram...
E mais além, mulheres e crianças! Fales lhes de deus,
A respeito do seu filho, na cruz por nós crucificado".

O rosto do starik ficou radiante de repente;
Como se uma nascente irrompesse de camadas rochosas,
Dos seus lábios empalidecidos, vivas ondas fluiam --
Palavras de rica linguagem, de profunda inspiração,
Palavras tão sublimes sem fé, jamais haveria. Não!
Ao cego parecia os ceus se manifestarem em glória;
Ele levantava as suas trẽmulas para o alto,
As lágrimas, dos seus olhos apagados,
escorriam pelas pálidas faces.

Mas eis que a aurora dourada já está se extinguindo
E raios pálidos da lua por entre os montes se infiltram,
Por entre as frestas imiscui-se a noturna umidade,
Mas eis que -- o pregador pregando ainda, ouve uma voz
-- Era o menino o chamando; Dando risos e empurrando:
"Por hoje, basta!.. Vamos andando!.. Ninguém mais há!"
Calou a voz o velho starik. Meneou a cabeça.
Assim que ficou calado -- De um extremo a outro,
Ouviu-se: "Amen!". Estrondearam as rochas, em resposta.

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