sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Na escuridão/ No paraiso.../ No jardim/


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В потемках, 1892)

Na escuridão

Acordei somente eu e -- tendo percebido mui precisamente,
A escuridão profunda ao derredor e -- não havia nenhuma luz.
E ouvi o coração, batendo ao som de whisky... Eu me apavorei.
Até pareceu que eu era um asno! Não via coisa nenhuma,
Não via janelas, não via parede, nem via a mim mesmo!..
De repente, por entre a surda e não correspondida penumbra,
Ali, onde as dissimulantes cortinas encobrem as janelas,
Com muita dificuldade consegui divisar uma turva mancha --
De luzes de um ceu noturno... como uma faixa bastante visível.
E esse ínfimo de brilho já me bastou, para que pudesse entender,
Que eu ainda não estava cego e que, embora nessa escuridão toda,
Tudo ao redor -- profeticamente, estava pleno de frias luzes,
Para que ainda nós pudéssemos aguardar as manhãs quentes...

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В потерянном раю, 1876)

No paraiso perdido

.................................
Já no início a neblina esfumarada
Encobria todo o jardim do Eden,
E a folhagem seca e amarelecida
Espalhava-se sobre o azul Eufrates,

O pássaro do paraiso já não cantou
-- Da águia, as asas o perseguiam,
E bravamente rugia a valente leoa,
Quando sentia-se acuada por um leão.

O mal olhava a tudo com desprezo...
Mortal conquista! O mundo do prazer
Imaginando: Para as gerações mortais
A partir de hoje, um ídolo eu serei.

Eis que, na paradisiaco cenário,
Com o seu amor-próprio ferido,
Qual triste sombra, uma mulher
Pelo paraiso seduzida, caminha.

O flutuar das mechas ondulantes
Sem o querer, esconde os seios seus;
Quiça em resguardo dos pensamentos
Que da alma lhe abrasaram o caminho.

A mão lhe estendendo, o próprio mal
Levanta-se correndo. E já de pronto
Com voz macia, atinge-lhe os ouvidos,
Cantando a beleza de pecantes sonhos.

Mas quem lhe pode aferrolhar a boca?
Por que razão ele retorna ao passado?
E como poderia ser amedrontado aquele
Para quem, o próprio inferno é nada?

Queria ver as lágrimas, sorriso do paraiso,
Desfiada de orações -- de um pudor acanhado.
Mas, no olhar dela, o que se encontra? -- A
Irreconciliávelmente hostil contrariedade,

Sem medo algum.
Uma assim inimizade,
Jamais esperava-se do pó da terra,
Que contrastasse com o seu passado formoso.

As trovoadas do resplendor divino --
Aqueles relampejos, que dos ceus
Foram lançados -- estremeceram
O olhar dela. O demônio o percebeu!..

Entre as trevas escondeu-se como fantasma,
Em densas nuvens frias se transformou,
Como serpente, entre as ervas, deslizou,
E sobre os galhos dos arvoredos pousou.

Porém, o poder de indignação da ira justa
Não quis reconstruir o paraiso terrestre,
E fez diluirem-se no ar, as lágrimas
Das árvores do poder do mal e da sabedoria.

*** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В саду)

No jardim

No jardim estamos festejando a despedida do nosso ócio.
Adeus! Bebo pela sua saude, meu querido amigo! --
E em homenagem ao sol, que a todos aquece, sem queimar,
Também ao gelo parabenizo, e a este eexuberante arbusto
Que não conhece suas rosas prórpias, e a este cálice
Que não reconhece de quem lábios quentes ela ja tocou.
E o relampejar, e os sussurros, e esse balanceio
Dos arvoredos -- Tudo repleto de total desconhecimento;
E nós fomos condenados para festejarmos os sofrimentos,
Para reconhecermos a frieza e a ardência dos doenças...
Adeus! Ainda bebo pela sua saude, meu querido amigo!

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