quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma viagem no inverno


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Зимний путь, 1844)

Uma viagem no inverno

             A vista se turva na noite escura
             Sob a kibitka do meu trenó,
             Encavilham na neve os patins,
             Os sinos do arco do dorso badalam,
             E o cocheiro "fustiga" os cavalos a correr.

Além das montanhas, das matas, do enfumaçado das nuvens
             Há um brilho sombrio dos raios lunares.
             Um uivo, de longo suspiro, de lobos famintos,
Que se propaga pelas neblinas densas da floresta. --
             Eu tenho sonhos de estranhos fantasmas.

Em tudo vejo uma fantasia: uma bancada à frente,
             Uma velhinha sentada na bancada,
             Até à meia-noite fiando e fzendo o tricô,
Ao mesmo tempo, conta-me lindas estórias,
             Cantarolando canções de ninar.

Vejo em sonho, no dorso de um lobo qualquer, eu cavalgando
             Galopando em marcha -- sobre os atalhos da mata,
             Para guerra, contra um rei bruxo, estou
Num país -- bem distante, onde uma rainha está trancafiada
             Fenecendo ali, em masmorra, morrendo de dor.

Ali há um palácio real de cristais, de jardins rodeado,
             Um cantar permanente -- por noites a fio, de rouxinois
             Que se alimentam de frutos dourados, sementes bicando,
Nascentes burbulham ali, jorrando águas de vida e da morte --
             Coisas assim inverossimeis, parecem-me enganar.

As noites de lá, assim silenciosas e frias, turvam a vista
             Sob a cobertura -- kibitka, do meu trenó,
             Encavilham na neve os patins,
             Os sinos do arco do dorso badalam,
             E o cocheiro apressa -- "fustigando", os cavalos a correr.
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Nota:
Kibitka -- cobertura de trenó, carreta coberta, tenda de nômadas

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